quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O PONTO














Ele se levantou e foi direto para o banho, como era de costume...
Depois de escovar os dentes, se olhou no espelho...pensou por alguns instantes na sua vida...
Morava sozinho por opção, mesmo namorando a quase 4 anos...algo nele não sentia firmeza quando se tratava de sentimentos e relacionamentos...não tinha família, pais, irmãos, mas tinha bons amigos que eram a sua família...
Tomou um café rapidamente, num copo semi-lavado, com roupas semi-passadas.. não se preocupava muito com coisas de casa.
Saiu correndo como sempre, atrasado, corria para alcançar o ônibus, normalmente lotado...com alguns empurrões e cotoveladas, ele conseguia sentar-se no canto do último banco que ninguém gostava, mas era o seu favorito.
Naquele dia, saiu da rotina...a poltrona estava ocupada, teve que ficar em pé, não gostou muito da idéia pois o caminho era longo e ele sempre tirava um soninho...no meio de tantos braços encaixou a cabeça e assim a manteve por algum tempo...olhando para o nada, ele a vê...uma garota sentada no banco do ponto de ônibus...chorando...o transito fluiu e ele foi se afastando e olhando para ela...aquele rosto não saiu da sua cabeça por todo o dia...
No final da tarde, voltou para casa meio cansado, meio passado...desmarcou o encontro com sua namorada e foi deitar mais cedo...
Outro dia, mesma rotina e uma ansiedade...saiu correndo, entrou no ônibus e escolheu um novo lugar para sentar...era perfeito para ver a garota do ponto...quando a estação se aproximava, ele ficou aflito para ver se ela estaria novamente ali...e lá estava ela, sentada conversando com outra pessoa que aguardava a condução...desta vez ela sorria...ele sorriu também e aqueles olhos que brilharam com as lágrimas do dia anterior, brilhavam mais ainda quando ela sorria...ele não entendia que poder tinha aquele momento...era mágico...
Assim foram passando dias, meses e ele foi se apaixonando por ela que nem sabia da existência dele...
Um dia, chegou para um grande amigo e contou o que estava acontecendo, no começo não foi levado a sério, mas depois, seu amigo percebeu a ansiedade que tomava conta dele e o incentivou a descer do ônibus e falar com ela, lhe contar o que estava acontecendo...ele achou absurdo o comentário do amigo, mas pensou no assunto...
Pela manhã, antes de tomar a condução, passou em uma floricultura e comprou um grande ramalhete de flores... o problema era subir no ôbibus com o ramalhete... deu um jeito alojando as flores no meio daquela montuera de gente...seu coração disparou, deu o sinal e desceu no ponto tão desejado...olhou para o banco e ele estava vazio, olhou no relógio, pensou que estava adiantado, resolveu sentar e esperar por ela...
Ela não apareceu...
Duas horas depois deu o ramalhete a uma senhora que passava...caminhou a pé até o trabalho, ficou arrasado...o que teria acontecido? Seria ela casada? Teria se mudado? Perdeu o emprego? Estava doente? Tudo poderia ser, afinal ele não sabia nada sobre ela, apenas o que seus olhos diziam quando ele passava...
Amanheceu, mais um dia de expectativas e novamente ela não estava no ponto...dia após dia...nada, nem um sinal dela...
Passou um mês, ele chegou a ficar doente por não vê-la mais...seus amigos e sua namorada estavam achando ele muito estranho, tentavam tudo para animá-lo, ele disfarçava, sorria...mas estava muito triste por não vê-la mais...
Quando seu coração parecia estar se despedindo da imagem dela...lá estava ela novamente sentada no banco do ponto...ele berrou para o motorista parar, desceu na esquina e correu em direção a ela...parou na sua frente e pensou: o que vou dizer a ela? Estou apaixonado? Faz quase um ano que te vejo pela janela do ônibus e não sei mais viver sem você?
Então... vieram as palavras que saíram tremidas de seus lábios—A muito tempo venho querendo te conhecer... vamos tomar um café ali na padaria? Sorriu para ela...
Ela achou graça e retribuiu o sorriso...
Levantou-se, atravessaram a rua e foram tomar café...

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