domingo, 31 de agosto de 2008

O Som da Canção...













A frequência com que Rosalia ouvia aquela música, tornava seus dias mais vividos como se fosse o último dia de sua vida...
Tinha 85 anos, como ela mesma dizia, bem vividos...
Ficava na varanda de sua casa em uma cadeira de balanço...gostava de bordar, mais sua visão não lhe ajudava mais...decidiu então, estudar os cantos dos passáros ...haviam muitos pássaros por lá...passava grande parte do dia afinando seus ouvidos, que ao contrario de sua visão, estavam cada vez mais sensíveis, sua audição era perfeita...
Numa tarde de verão, o pássaro que cantava mais alto de todos, se colocou no braço de sua cadeira e tímido ficou em silêncio...ela sem se mexer, olhou para o pequenino quase que implorando para que ele cantasse para ela...nada...nem um pio...com muito cuidado ela aumentou o som de sua música para ver a reação do bichinho...ele bateu asas e voou para o topo da árvore mais alta e lá de cima se pôs a cantar ainda mais alto que a música...
Rosalia compreendeu o que se passava...
O pássaro gostava daquela música tanto quanto ela, disputava a sua atenção com aquele violino que traziam os sonhos dela a flor da pele...
Ela sabia que ele teria que deixar aquelas tardes tão vividas com ela...sofria só de pensar na separação...
O canto do pássaro e a audição de Rosalia, eram perfeitos um para o outro...
Mas ele tinha asas, ela não...somente a imaginação...
O silêncio da aproximação era o afeto mais sentido por eles...
E os olhares que trocaram... era a própria canção...

sábado, 30 de agosto de 2008

UM SINAL

Um sinal...
...a imaginação...
...um louco pulsar nas suas veias,
do sangue correndo pelo corpo inteiro...
...jorra felicidade para o coração...
A sensação do sentimento criado pelo anonimato de sua paixão,
faz o afeto que se tem, ser depositado em suas mãos...
Um sinal...
Tão pouco e tão profundo...
Tão distante e tão perto...
Tão meu...tão seu...tão nosso.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O TOQUE

Foi assim que eles se conheceram...se olharam...sorriram...ele estava sempre por perto dela...o toque nos lábios aconteceu... ela sabia que seria escrava desse sentimento... seus sonhos...um beijo...a magia... marcou o silêncio entre eles...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O PONTO














Ele se levantou e foi direto para o banho, como era de costume...
Depois de escovar os dentes, se olhou no espelho...pensou por alguns instantes na sua vida...
Morava sozinho por opção, mesmo namorando a quase 4 anos...algo nele não sentia firmeza quando se tratava de sentimentos e relacionamentos...não tinha família, pais, irmãos, mas tinha bons amigos que eram a sua família...
Tomou um café rapidamente, num copo semi-lavado, com roupas semi-passadas.. não se preocupava muito com coisas de casa.
Saiu correndo como sempre, atrasado, corria para alcançar o ônibus, normalmente lotado...com alguns empurrões e cotoveladas, ele conseguia sentar-se no canto do último banco que ninguém gostava, mas era o seu favorito.
Naquele dia, saiu da rotina...a poltrona estava ocupada, teve que ficar em pé, não gostou muito da idéia pois o caminho era longo e ele sempre tirava um soninho...no meio de tantos braços encaixou a cabeça e assim a manteve por algum tempo...olhando para o nada, ele a vê...uma garota sentada no banco do ponto de ônibus...chorando...o transito fluiu e ele foi se afastando e olhando para ela...aquele rosto não saiu da sua cabeça por todo o dia...
No final da tarde, voltou para casa meio cansado, meio passado...desmarcou o encontro com sua namorada e foi deitar mais cedo...
Outro dia, mesma rotina e uma ansiedade...saiu correndo, entrou no ônibus e escolheu um novo lugar para sentar...era perfeito para ver a garota do ponto...quando a estação se aproximava, ele ficou aflito para ver se ela estaria novamente ali...e lá estava ela, sentada conversando com outra pessoa que aguardava a condução...desta vez ela sorria...ele sorriu também e aqueles olhos que brilharam com as lágrimas do dia anterior, brilhavam mais ainda quando ela sorria...ele não entendia que poder tinha aquele momento...era mágico...
Assim foram passando dias, meses e ele foi se apaixonando por ela que nem sabia da existência dele...
Um dia, chegou para um grande amigo e contou o que estava acontecendo, no começo não foi levado a sério, mas depois, seu amigo percebeu a ansiedade que tomava conta dele e o incentivou a descer do ônibus e falar com ela, lhe contar o que estava acontecendo...ele achou absurdo o comentário do amigo, mas pensou no assunto...
Pela manhã, antes de tomar a condução, passou em uma floricultura e comprou um grande ramalhete de flores... o problema era subir no ôbibus com o ramalhete... deu um jeito alojando as flores no meio daquela montuera de gente...seu coração disparou, deu o sinal e desceu no ponto tão desejado...olhou para o banco e ele estava vazio, olhou no relógio, pensou que estava adiantado, resolveu sentar e esperar por ela...
Ela não apareceu...
Duas horas depois deu o ramalhete a uma senhora que passava...caminhou a pé até o trabalho, ficou arrasado...o que teria acontecido? Seria ela casada? Teria se mudado? Perdeu o emprego? Estava doente? Tudo poderia ser, afinal ele não sabia nada sobre ela, apenas o que seus olhos diziam quando ele passava...
Amanheceu, mais um dia de expectativas e novamente ela não estava no ponto...dia após dia...nada, nem um sinal dela...
Passou um mês, ele chegou a ficar doente por não vê-la mais...seus amigos e sua namorada estavam achando ele muito estranho, tentavam tudo para animá-lo, ele disfarçava, sorria...mas estava muito triste por não vê-la mais...
Quando seu coração parecia estar se despedindo da imagem dela...lá estava ela novamente sentada no banco do ponto...ele berrou para o motorista parar, desceu na esquina e correu em direção a ela...parou na sua frente e pensou: o que vou dizer a ela? Estou apaixonado? Faz quase um ano que te vejo pela janela do ônibus e não sei mais viver sem você?
Então... vieram as palavras que saíram tremidas de seus lábios—A muito tempo venho querendo te conhecer... vamos tomar um café ali na padaria? Sorriu para ela...
Ela achou graça e retribuiu o sorriso...
Levantou-se, atravessaram a rua e foram tomar café...

sábado, 23 de agosto de 2008

Sopa de Letrinhas









Hoje, coloquei no "AR", este novo espaço (...), para garantir que não terei preguiça de escrever meus próprios textos. Os posts abaixo, eu trouxe do blog (cmoonlua.blogspot.com), que continuarão existindo lá também...e a partir de agora, só blogarei os textos escritos por mim, aqui.
Sejam todos bem vindos a esta "Sopa de Letrinhas"... As reticências mais do que nunca, farão parte desta fase.
:)

Um escritor, um poeta, um sonhador...

Conheceu uma pessoa que mudou completamente a vida dela...
Um escritor, um poeta, um sonhador...
Alguém especial de grande valor...
Ninguém aparece por acaso...
E vai embora por acaso...
Ela o reconheceu, olhou para ele e o viu na sua essência desde o início...
Diferente...completo...
É assim que ela o vê...
Ele a conquistou pele sua paixão... digo paixão, por tudo o que tem vida...e se manifesta pelas palavras escritas...
Em cada texto seu, lá está ele por inteiro...
Pessoa de carácter, ético, brilhante...
Ela viu isso desde o início...
Ele tem paixão no olhar e na alma...
Boa gente, esse tal poeta que escreve...
Ele nunca trocou uma palavra com ela...só olhares...
Olhares que falaram mais que mil palavras juntas...
Ela sabe que sua vida ficou marcada para sempre...
Ele se foi, mas seus textos estarão sempre espalhados por aí...
Ele tem o mundo para ganhar...
Ela terá motivos mais do que nunca, de acompanhar o seus textos...
Provavelmente, ele nunca saberá o quanto ela o admira...
O tamanho do seu valor para ela...
A dor da saudade vai bater...
Mas quando isso acontecer, ela terá mais um texto do poeta...
E com lágrimas no rosto...
Ela deseja ao poeta que ele continue brilhando como escritor...
Mas que nunca deixe os seus próprios textos de lado...
É sua alma...
Faz parte dela agora...
Ele o poeta, que só trouxe alegria para os dias dela...
Ela sorri, meio sorriso e percebe...
O poeta fez toda a diferença!

O PAPEL









Começou a escrever...fazia isso quase todos os dias, mesmo sem tempo ela se colocava na frente do papel...
Tinha uma vida muito agitada, corria contra o tempo... mas o tempo lhe favorecia quando se tratava de escrever...
Depois de meses passados, os textos em que ela mergulhava se tornaram o ar que respirava...
Em suas leituras noturnas, ela conheceu o poeta, aquele que mudou completamente a sua vida...ela tinha uma admiração que não conseguia expressar em palavras...
Passou a escrever mais e mais...quando tinha oportunidade de ver textos novos do poeta, ela mergulhava em sonhos sem fim...
Um dia, sonhou até ser absorvida quase por completa...e na mesa de um bar com alguns amigos, o acaso se manifesta... ela vê o poeta rondando a sua mente... naquele momento, ela percebeu...nem um olá...nem um adeus...um silêncio assustador que eles criaram...sem perceber.
Saiu do bar caminhando a passos largos e rápidos, lágrimas começaram a cair no seu rosto sem que ela pudesse controlar...chorou...se culpou pelo silêncio, pelas suas incertezas e pela distância desenfreada que mantinha...que poder tinha seus sonhos para sugar tanto esta sua alegria..? Por que nenhuma palavra falada somente as escritas?
Quando se acalmou...
...pegou o papel e a caneta...
...com os olhos inchados, sentou-se em frente a janela de sua casa e colocou os pés no chão.

O bebado e o equilibrista




O farol fechou, ela reduziu a velocidade até parar. Olhou para frente e viu um homem com três crianças pequenas atravessando a rua.
Ele, o suposto pai, atrapalhado que só vendo, não conseguia dominar os três picolinos...o mais velho tinha uns seis anos, o do meio uns quatro e o BB uns dois aninhos... este safadinho, correu pela calçada fugindo e rindo ...o pai, cambaleando, pegou firme na sua mão, esbravejou um pouco e lá foram os quatro atravessando a rua.
Quando chegou na esquina, ele fez uma parada e olhou para dentro do bar a sua direita, fixou seus olhos em dois fulanos que estavam no balcão perto do caixa encharcados de cerveja... "ás 10:00 hrs., de uma manhã cinzenta"...
Seu rosto chamou a atenção dela...o sorriso que ele carregava na face virou seriedade e tristeza...seus olhos vermelhos e esbugalhados, olhos de quem bebe muito, ficaram ali parados...as crianças impacientes não entendiam o que estava acontecendo...
Ela pensou que ele entraria naquele bar e se juntaria aos pobres que estavam lá caindo pela tangente... mas para a sua surpresa, ele tomou os passos firmes e foi subindo a ladeira... cambaleando e sorrindo para os picolinos que brincavam ao seu redor...
O farol abriu, ela virou para a esquerda e seguiu em frente...percebeu a fraqueza aparente sendo superada pela decisão acertada... "por um minuto ele pensou nos picolinos" ...e fez toda a diferença...
Com os olhos cheios d'água, ela sorriu...

SOLIDÃO










O por do sol alaranjado lhe confortava no caminho longo pelas terras gramadas...
De muito longe... ele observava ela andando...seu coração dilacerado...
Ela sentia frio, solidão e o desprezo por si mesma...já não se conhecia mais...
Que diabos fazia ela só naquela imensidão...
Seria um mau entendido?
Nada mais era como antes...ela parou...olhou para o infinito e caiu de joelhos no gramado molhado que anunciava a noite chegando...seus ombros pesaram fazendo assim, que a sua cabeça erguer-se para o céu...a quanto tempo ela não via o céu...lágrimas caíram pela sua face pálida...
Nesse momento, ele teve o impulso de correr até ela e levantá-la...mas exitou por medo...
Um vento forte jogava seus cabelos para os lados...ela colocou uma de suas mãos no bolso do vestido e tirou uma tesoura...com a outra mão segurou o cabelo e o cortou rente a nuca...uma grande mecha do cabelo caiu de sua mão junto com a tesoura...
Ela concluiu seu sofrimento caindo sobre a grama gelada...
Então... ele correu...correu desesperadamente até ela...
Ouviu o seu último suspiro...
E um grito se fez no infinito...

Tem gente de todo o tipo...

Tem gente que é feliz e gosta de dar felicidade ao outro...
Tem gente que gosta de receber esta felicidade...
Tem gente que não sabe o que é felicidade...

Tem gente que finge não saber...
Tem gente que sabe fingir saber...
Tem gente que finge por medo...
Tem gente que não sabe fingir...

Tem quem olhe por admiração...
Tem quem admira o olhar...
Tem quem goste de ser admirado...
Tem quem goste de admirar...

Tem aquele que quer de qualquer jeito...
Tem aquele que não quer e da um jeito...
Tem aquele que tem seu jeito de querer...
Tem aquele que quer pelo seu jeito...

Tem quem deseja alguma coisa...
Tem coisa que a gente só deseja...
Tem desejo em muita gente....
Tem gente que deseja não desejar...

E aí por diante...

Sentimentalidades

Teve saudades, teve medo, sempre foi muito segura, mas teve medo...
Queria lhe escrever e revelar a sua verdade... mesmo que fosse só para aliviar o seu silêncio...
Mas o medo, medo, medo...
O medo de se deixar levar pelo seus olhos...lindos olhos...dominavam o seu sentir...tudo o que existia nela...
Sua pele branca lhe fascinava e quando ele tocava sua cabeça era como se tocasse a dela...
Se perguntava como era possível algo assim...mas acontecia sem que ela esperasse...
Então o medo...e a saudade...o medo....e a saudade....
Não aguentava mais esta saudade e pegou o seu retrato, era mais forte que ela...
Precisava olhá-lo!
E nessa descoberta, palavras doces lhe invadiam a alma...como se ela tivesse tido um momento único com ele...

O ESPELHO




Ela se levantou e caminhou até o espelho grande na parede...
Olhou bem dentro dos seus olhos e lá ficou...minutos antes, havia lido a carta que ele deixou sobre a mesa perto da porta...
Seus olhos abertos e petrificados ficaram olhando sua imagem.
Os pensamentos não se organizavam, sentia frio e o que a mantinha ali em pé, era o sol do inverno que tinha acabado de chegar e lhe tocava a face...
E assim ficou por horas...até que começou a lembrar letra por letra das palavras do seu amante... o papel da carta estava completamente borrado com as suas lágrimas...as letras se misturavam...ela suspirava e se consumia...
Ele havia explicado tudo, contado toda a verdade... o verdadeiro motivo que os separava tão bruscamente um do outro...sua partida...
Um amor que ela jamais tinha experimentado... se reprovava por não ter lhe dito a verdade sobre seus sentimentos...
Nada fazia mais sentido...apenas aquele olhar que paralisava sua face...
O sol foi partindo de seu rosto, o frio entrava pela sua pele congelando sua alma...ainda, em frente ao espelho que tinha lhe prendido por todo o dia...começou a respirar curto e rápido como quando se quer chorar...
Por um momento, fechou os olhos...escutou o vento arrastando as folhas das árvores...ergueu uma de suas mãos, tocou seus lábios secos e imobilizados...virou lentamente a cabeça para a janela... abriu os olhos...entre as folhas caindo e a noite surgindo, viu algo se movendo em sua direção...
Com muito esforço caminhou até a porta, colocou um casaco velho e amassado que estava pendurado ao lado...abriu a porta e fixou os olhos naquele ponto vindo ao seu encontro...
Era ele, vindo com um ar de quem havia caminhado por horas para chegar até alí...rosto pálido, nariz vermelho e o olhar apaixonado...parou a uns trinta metros dela...
Ela pode ver nos seus olhos a dor de amor que consumia não só a ela...
Sorriu...caminhou até ele...fechou seus olhos e ergueu a cabeça para o céu agradecendo...
Ele, tomou suas mãos até seus lábios e as beijou devotamente...
E se tocaram no olhar...

Esse seu olhar...

Ela sente que é observada, por olhos que lhe perseguem já faz algum tempo.
Mas quando olha, os olhos dele se escondem...
Então, ela fica imaginando o que passa por trás daquele olhar...e sabe que ele imagina também...
Olhos de menino com postura de homem, respira fundo seduzida por ele, pelo seu jeito...
Silenciosa, sente aquele olhar passar pela sua nuca novamente... pisca os olhos e se distrai por alguns instantes, ela olha e não entende, ele se esconde, então ela percebe...e assim os dias vão passando...
O medo da aproximação é evidente, ela foge e quando fica perto dele, mau consegue respirar...como uma criança envergonhada...sente medo...foge do controle dela...
Um estranho, completamente conhecido por ela...
Admiração? Sim, o admira sem que ele saiba e talvez por isso sente seus olhares...
Ela sabe que seria um alvo fácil de preconceito...já foi atingida pelo veneno alheio... (ela não suportaria!)
Sua vida é confusa e disfarça seus sentimentos...que são só seus.
A dúvida é o preço do que ela sente...

Meu pai gostava e eu também!









Finalmente era sexta-feira.
Dia em que eu viajava com meu pai para sua casa no interior de São Paulo.
No caminho, ele gostava de prosear, contar histórias e eu de ouvir cada uma delas sempre muito boas.
Mas além da prosa, gostavamos de aproveitar o final de semana na represa da região para pescar.
No sábado, bem cedinho, era o momento de se equipar, eu colocava minha galochinha, arrumava uma mochila com alguns apetrechos tipo: toalha de rosto, bandaide, boné, garrafa de água, protetor solar e equipamentos de pesca...
Muito rapidamente engolia o café da manhã...e lá estavamos nós a caminho da represa.
Não era nada fácil a chegada, deciamos um morro bem alto e cheio de perigos, que me sentia nos filmes de Indiana Jones... escorregava, caia, afundava o pé na lama...terrível e adorável ao mesmo tempo...
Mas o legal das aventuras, era compartilhar com meu pai desses momentos...o bom, é que eu sabia o quanto era especial.
Passava a maior parte do tempo arrumando as iscas (micro peixes ou minhocas) para ele pescar os peixões, ele é que tinha o equipamento adequado...eu era uma espécie de assistente...mas... eficiente!
Ficávamos lá...em silêncio...(norma de pescador) e quando vinha o peixe era a nossa festa...
Podia fazer chuva e sol, nada nos detinha, enfrentavamos o tempo e os peixes da represa...bem verdade que eu não achava tão bom assim ver os pobrezinhos fisgados com aquele anzol gigantesco...mas a aventura era essa mesmo, então eu me conformava.
E assim, eu ficava olhando a boia flutuando...e muitas vezes a imaginação corria a solta...em alguns momentos eu parava para vê-lo pescar e com toda serenidade do mundo ele ganhava todo o espaço com sua pessoa...gente do bem esse meu pai... aliás, éramos mais amigos do que pai e filha...
O dia passava...pela tardezinha, íamos rumo a estrada de terra ao encontro de alguém combinado ou pegar caronas, muitas vezes na parte de trás dos caminhões como os boia fria...experiências...
Chegando na casa de meu pai, vinha a parte de cuidar das bolhas do pé, tomar um banho quentinho, jantar e ir para a varanda (nos dias quentes, claro), jogar conversa fora...ficar ouvindo as músicas que vinham da casa vizinha, um violão e boca que cantava músicas regionais/caipiras... e eu que não gosto nem um pouco disso, ficava olhando para a noite escura,o céu estrelado e meu pai ali falando e rindo...das nossas aventuras do dia...e eu nunca mais vou esquecer disso!

Co_lo_rin_do!










Vida dura esta da cidade grande...muita correria...o tempo, pouco tempo para muita coisa.
Para ela não seria diferente, mesmo adorando o que faz, o problema é que as coisas já não faziam muito sentido para o que sentia...
Se colocou a pensar...estava em busca de valores mais profundos e dentro do sufoco do dia-a-dia, não estava mais conseguindo atingir este seu objetivo...as coisas...as pessoas...lhe pareciam muito superficiais e a deixavam triste.
Tomou uma atitude que a tempos não tomava, inesperada, deixando todo o resto para trás...pegou a mochila e tomou um rumo estrada a fora...iria dar mais colorido para a sua vida...
Levou duas horas e quinze minutos para sair da cidade grande, isso significou...muito transito, muito sol, muito calor e muita poluição...até que conseguiu pegar a estrada, ela não sabia o que viria pela frente, mas estava determinada a dar mais cores para aqueles dias...
No primeiro momento, olhou a paisagem que se apresentava completamente verde...depois foi percebendo os tons de verdes diferentes...a medida que avançava mais na estrada, iam aparecendo tons de amarelos, brancos e azuis...quando fez uma curva bem acentuada, conseguiu visualizar uma plantação de girasois...simplesmente linda...estava se sentindo em uma tela de Van Gogh como no filme sonhos de Akira Kurosawa, era a pintura mais realista que já tinha visto...e se imaginou correndo entre os girasois levando uma tela de baixo do braço para ser colorida...
Então prosseguiu...
No rádio do carro tocava Elton John, que lhe fazia compania e ajudava ela ilustrar aqueles momentos...
Havia muitas nuvens se formando no céu, estavam sendo generosas com ela cobrindo parcialmente o sol que fervia sobre a pista...mirando bem a diante, estas nuvens se transformavam em vários tipos de bichos, alguns de bocão bem abertos, pena que logo se diluíam...neste mesmo momento, observou uma revoada de pássaros bem no meio da estrada e mais uma vez sua imaginação a levou para bem longe...lá estava ela voando junto com os pássaros...o mais alto que podia...mas gotas de chuvas a trouxeram para o chão... e sem exitar, parou o carro no acostamento, tirou os sapatos e as meias, ergueu as barras da calça e pisou na grama gelada que lhe refrescava os pés...caminhou um pouco e parou...ergueu a cabeça...sentiu ser acariciada pelas gotas da chuva e pelo sol que também estava ali...ficou olhando o céu azul entre as nuvens que pareciam algodão...sorriu!
Depois, olhou para frente e lá longe, do outro lado da estrada, viu uma casinha branca com janelas e porta azuis, completamente isolada no meio de tanto verde e em segundos sua imaginação a levou para lá...desta vez, levou pincéis e cavalete para colocar a sua tela e começar a pintar...se viu sentada dentro da casa com as janelas e porta abertas, a luz do dia ainda alcançava seu rosto e ela pode desenhar sua visão...grandes olhos negros...
Retomando a realidade, agradeceu aquele momento tão especial...e prosseguiu colocando a tela já iniciada no banco do passageiro...
Em cada cidadezinha que passava, as cores iam tomando tudo e todos...o sorriso, a simplicidade, os gestos das pessoas...tudo ajudava as cores ficarem cada vez mais vivas...até que avistou o exército da salvação...muitos e muitos eucalíptos, todos grudadinhos...uma a um...era como se estivessem de mãos dadas equilibrando o oxigênio que entrava em seus pulmões...e mais uma vez se viu sentada entre eles, completando aquela aquarela...o desenho ia tomando forma...já tinha olhos, nariz e boca...só estava faltando a forma daquele rosto...
Despertou...e naquele instante viu que já tinha passado a entrada do seu destino, teve que achar um retorno para voltar e foi nesse momento que viu um arco-íres que passava de um lado da estrada para o outro...se colocou subindo este arco-íres com o carro e lá no topo, deu forma ao rosto de sua aquarela...
Voltando...
Pegou a entrada certa na estrada e continuou a sua jornada feliz da vida...nem se dava conta do que estava acontecendo ali...as cores não lhe davam mais tréguas...estavam por todas as partes...invadiram tudo...
A chuva partiu, o céu se abriu e o sol estava novamente ali, mas já estava fraquinho com o cair da tarde...um entardecer bem modesto e brilhante...
Então percebeu que a viagem que deveria ter uma duração de duas horas e meia, já estava em cinco horas...se atentou ao significado do tempo naquele momento...e chegou ao seu destino.
Mais a noitinha, sentada na sala da casa grande, comendo um pedaço de batata doce, debruçada sobre a mesa, olhou pela janela e viu a lua que banhava com seu brilho prateado a represa que ficava bem em frente da casa...pensou que estava só naquele momento de intimidade total com a noite e se virando para a parede, lá estava ela...a tela aquarelada...com aquele rosto finalizado...de um homem iluminado pela luz do luar que entrava pela janela...rosto comprido com olhos grandes e negros que olhavam para ela com a mesma alegria dela...ele podia compartilhar daquele momento especial dela...e ela...
Ela sorriu para aqueles olhos...os mesmos olhos que carrega consigo todos os dias...

O menino e a estrela

...Era um dia de sol, céu azul...
O mar estava agitado...uma onda gigante cuspiu para a areia, uma estrela do mar, que acabou presa na areia da praia...
Quando a estrela percebeu, não tinha mais como voltar para o imenso mar...e ali ficou...passaram-se vários dias e ela não tinha como alcançar o mar...
A estrela estava por um fio, o que a mantinha viva eram as chuvas que caiam de vez em quando...ela aproveitava cada gota e se enchia de esperanças...
O dia amanheceu...era um dia diferente...alguém caminhava pela areia...era um jovem cheio de esperanças e o mundo para conquistar, como aquela estrelinha que estava por um fio...ele caminhava feliz da vida, todos os seus sonhos estavam depositados ali naquele céu azul que refletia no mar e abraçava a areia branca...ele caminhava pensativo, olhando para o céu...distraído...quase pisou na estrela...parou...e reparou que havia algo ali....a areia cobria a estrela quase por inteiro...ele abaixou e retirou a pobrezinha que estava preza por muitos dias...limpou a areia que estava sobre ela e continuou andando...ele reparou que a estrela estava muito seca...olhou novamente com mais atenção e por um momento...ele ficou agoniado de tê-la em suas mãos e resolveu jogá-la ao mar...a estrela teve medo...achou que era o seu fim...girou, girou e girou até cair no mar...adormeceu...
Quando acordou, estava cheia de vida, radiante naquele imenso mar...estava tão viva como a tempos não sentia....girou e nadou muito rápido para dentro do oceano, tinha muito para conquistar....pensou no rapaz que salvou sua vida...e desejou que ele fosse salvo também...

Sonhar, no mundo da Lua...

Como encanto, do encanto que estou...do sonho quase terminado, mas a ele retornei...como o ar que respiro...pelos toques no teclado do poeta...não há nada melhor que sonhar.

Com o canto suave e terno de Dalva de Oliveira na interpretação de Danilu, falando das estrelas e do grão de areia, que imaginavam coisas de amor...pude ver o rosto do poeta como sempre vi nos meus sonhos...

Estava entrando no mundo real e deixando o sonho de lado...mas retomei minha inspiração com aqueles olhos que penetram minha alma...

Tem paixão em sua alma...talvez ele nem se de conta disso...

O sonho pode até tornar-se realidade, mas sempre deve ser com a suavidade do lado mais puro e terno das estrelas que se encontram no céu e no mar...

Com o seu encanto...sua beleza de menino... ele me trouxe alegria nos meus dias...assim o será... enquanto ele for a minha estrela e grão de areia e eu a própria constelação...

Um olhar diferente...








Um dia desses, estava eu comprando um presente para um amigo, em uma dessas livrarias gigantes da Siciliano, aquelas que você vai…entra e não sai mais…vira um problema...você não sabe o que levar...
Foi por uma boa causa a minha ficada lá...
Olhei alguns CDs, depois fui para os DVDs, aí fui ver revistas e mais adiante me peguei nos livros...
Bom, até aí tudo igual…massss…sem que eu percebesse, estava na seção de livros infantis, sentada em uma cadeirinha de criança, olhando e lendo alguns livros que peguei na prateleira e coloquei sobre uma mesinha…
Passei um bom tempo ali…até o vendedor sentou do meu lado e ficou falando sobre os livros, falava, falava, empolgado, falava…me contou até algumas histórias…depois se foi.
Achei graça…
Continuei entretida com os livros...
De repente...uma mão pequenina se apoiou no meu ombro…
Virei…olhei…era uma garotinha de uns 6 aninhos, usando óculos escuros, cabelos presos, um vestidinho azul, com cheirinho de talco…muito bom o cheirinho de talco…sorrindo…
Do nada, perguntou o que eu estava fazendo ali…
Pensei…depois olhei bem para ela e respondi que estava lendo histórias de criança…
Ela sorriu novamente e perguntou porque?
E eu disse… adoro…é isso…adoro…!
Então ela sorriu novamente e pediu para que eu contasse uma história para ela…
Escolhemos a história da família de ursos…
Ela não podia ver…mas prestava atenção como eu nunca tinha visto antes…
Conforme eu ia contando a história, via suas expressões...sorria, ficava séria...franzia a testa... e aquilo bateu lá dentro de mim…aquele rostinho que até o momento era desconhecido…virou tão familiar…estava me sentindo em casa…
Ao terminar a história, seu pai se aproximou chamando a garotinha para irem embora…só aí, perguntei para ela qual era o seu nome…?
Marta, disse feliz da vida…
Quando fui dizer o meu nome, aquelas mãozinhas se puseram no meu rosto…fazendo reconhecimento… as pontinhas dos dedos foram deslizando pelos olhos, nariz e boca…então me disse:
—Você é a moça que conta histórias…
E eu fiquei sem ação…não conseguindo falar, algumas lágrimas caíram no meu rosto, dei um beijo em sua bochecha e vi ela partindo…sorrindo e brincando…pensei…fiquei olhando…vendo ela já longe…
Isso me deu uma idéia…
Deste dia para cá, algo mudou dentro de mim…e só hoje estou me dando conta…e com um leve sorriso nos lábios…lembrei do seu sorriso…

CARETAS










Tudo começou quando virei com o carro em uma esquina perto de casa.

Um homem bem apanhado foi se virar para espiar sei lá o que e deu uma baita olhada para o chão, eu não pude deixar de perceber sua expressão. O rosto ficou completamente enrugado com os olhos estálados...ele nem se deu conta da careta terrível que tinha acabado de fazer e retomou a postura...
Daí pra frente, comecei a reparar nas caretas que fazemos durante o dia, deu para fazer uma lista delas:
- A dona, que atravessa a rua e os olhos que quase saltam-lhe a face...
- O homem que pisca os olhos sem parar...
- A mulher que lança um olhar sensual para o homem que passa do seu lado, vira o pescoço, faz cara de quero mais e fecha os olhinhos...em seguida, a erguida de sombrancelhas do alvo e a cara de satisfação dele, enrugando a testa ao reparar que está sendo paquerado...
- O homem falando no celular, cada palavra uma torcida de nariz, o rosto que não para quieto e as sombrancelhas que vão para cima e para baixo...este estava muito engraçado...

Alguns colégas de trabalho ao se concentrarem na tela do computador, fazem caretas de todos os tipos, vou colocar apenas algumas que são rotineiras e que na surdina acabo dando risada por dentro...é divertido vai...
- Um deles fica com expressão de riso e olhos franzidos o tempo todo em que escreve...
- Outro que estála os olhos...
- O que fica com cara de sono o tempo todo...às vezes me incluo nesta categoria de caretas...
- O que torce a boca enquanto escreve...
- O que morde a língua...
- O que não pisca e nem muda a expressão (esté é incrível, passa horas do mesmo jeito)...
- O que dorme na frente do micro, (dorme mesmo, a boca fica aberta e a cabeça cai), várias pessoas já viram esta cena, só falta roncar...
...sem falar de mim, que acabei reparando o quanto torço a boca e errugo a testa durante o dia... Cada um me faz rir por dentro de formas diferentes...é muito bom vc olhar para as pessoas nesta situação e elas nem se darem conta de quanto estão engraçadas...principalmente no trabalho.

[A careta que mais me chamou a atenção de todas nesta semana, foi a do homenzinho na Paulista...aquele que fica com os chinelinhos na mão e juelheiras para se locomover (ele tem defeito nos pés), está sempre com um sorriso nos lábios...esta foi a melhor careta!]

Coisas da vida…a vida e coisas…

Mulher, aparenta uns setenta e poucos anos, quase oitenta, provavelmente tenha menos idade, mas as marcas do tempo e do sofrimento revelam uma senhora…
…deve ser moradora de rua, veste saia longa com um sobretudo preto, duas peças bem surradas…
…ali, parada em frente a um canteiro cheio de flores…em plena Avenida Paulista…um olhar parado…
…de repente, despara a falar, descutir com as plantas, penso eu, que ela não via as plantas e sim, algo que só está dentro de sua mente…
…tira o sapato e mostra para o canteiro seu pé completamente sujo e judiado…reclama…reclama…olha para as plantas novamente, implorando atenção, sorri querendo chorar…é de cortar o coração…

Meus olhos se encheram de lágrimas que começaram a cair…lágrimas de entendimento e compreenção, pena não poder fazer nada ou achar que não posso…
…conheço de perto esta situação, só conseguimos sentir a dor do outro quando vivenciamos algo igual ou semelhante…
…minha mãe, era mais ou menos assim, viveu muito em clinicas de repouso, idas e vindas desde os meus 10 anos…
…lá, conheci todos os tipos de gente, viciados, alcólatras, esquizofrênicos e perturbados…gente bem jovem e também gente bem idosa…
…aprendi muito, é difícil, mais grandioso…o tempo diz isso quando você consegue ultrapassar todas as barreiras do sofrimento do outro e do seu próprio sofrimento…
…mas, o que importa é que aprendi muito…
…aprendi a ser o que sou hoje…sei que se preciso fosse, faria tudo de novo, só para poder tê-la ainda por aqui…linda sempre!
Pena aquela mulher não ter ninguém e ser tão só…

Sem ((vergonha)) de ser feliz

Terça pela manhã, Avenida Paulista, farol perto do Masp...
...em meio transito, que não é nenhuma novidade, vejo duas cenas que fisgaram o meu olhar pela oposição dos fatos...
...lá estava o vendedor de balas esperando fechar o farol, com seu chinelinho havaiana, bermudão surrado e moleton vermelho...com um bando de saquinhos de balas na mão...lá estava ele, com um sambinha no pé e um largo sorriso nos lábios em pleno chuvisco intenso...
...e do outro lado da Avenida...um rapaz fazendo um ensaio fotografico com uma modelo linda e formosa...cabelos escovados, um belo vestido, magra de dar inveja, tudo em alto estílo ...chingannnndo...esbravejannnndo...tendo um chilique, dando um verdadeiro "piti", com o coitado do fotógrafo que também revidou no mesmo estílo fino...
...não pude deixar de sentir a pobreza e a riqueza dos fatos...
...enquanto a nobreza do luxo virava lixo...a simplicidade da pobreza virou um luxo só...

ACALANTO

Senti saudades e o poeta apareceu...
...é tão tarde, mas não consegui deixar de passar por aqui...pude até ver o poeta mesmo que por um segundo...
Lembrei de algo que aconteceu no início de novembro de 2007, encontrei um retrato que tocou lá dentro do coração...
...se eu conhece-se, não teria nenhuma novidade em ver um retrato...pois bem...o interessante deste acontecido, é que eu não "conheço", exatamente...
...no retrato, aparece um menino tão doce com sua face rosada pela pele branquinha, ele está com a cabeça encostada no ombro de sua avó, com os olhos...ai os olhos... quase fechados e um leve sorriso de uma alegria terna...
...e sua avó, com um sorriso de quem tem bagagem suficiente para lançar ao mundo, todo o afeto que aprendeu com vida...
...ai é que foi intrigante para mim...chorei, talvez pelo afeto, não sei explicar, apenas chorei demais...entendi, que foi um carinho verdadeiro que experimentei, aquele que vem da alma, sem nada pedir em troca e tão pouca gente tem essa chance de sentir...sentir...apenas sentir...
...eu pude ver, não com os olhos, mas com o coração, o afeto de um pelo outro e eu por eles...e isso ficou dentro de mim...

Clima de interior













A brisa acariciava o rosto dela, com um olhar leve e tranquilo, olhava aquela luz de sol alaranjado de final de tarde, lá na varanda que se encontrava...ao redor, a natureza se encarregava de ilustrar a paisagem para ela.

Um cachoro, pequenino, preto, passava na frente dela, com um andar rápido e curtinho...logo acima, um pouco mais adiante, cabos de fios de alta tensão, serviam de apoio para os passarinhos que ali estavam, um a um sobre os fios, formando assim notas musicais de uma partitura... de pano de fundo desta partitura, uma represa que se movia bem rápido para a direita, dando a impressão de tocar aquela partitura de pássaros...

Mais adiante ainda, nas sombras gigantes das árvores, estavam várias vaquinhas caminhando pelo pasto, algumas sendo abraçadas por aquelas sombras, outras refesteladas ao sol alaranjado...

E a brisa continuava sobre ela...a brisa...que trazia um leve sorriso em seus lábios...estava em paz com a vida...as lembraças vinham em sua mente...lembranças que ampliava o sorriso...e com o olhar mais distânte, pensava em alguém...tudo isso ao som dos pássaros e da modinha de viola de Almir Sater...e o sorriso se alargava ainda mais...

O autor vira personagem...

Pessoa comprometida com seu trabalho, de aparência atraente...ele tem personalidade, é simpático e tem um olhar que faz parte dele, só dele...olhar sério...misterioso...afetuoso...as vezes distânte...um sorriso de menino...encantador!

Quando fala, todos prestam atenção, sabe articular... alguns momentos é homem feito...em outros um menino...lindo.

Trabalha muito durante o dia, tem postura, convicção, acredita no que faz...provavelmente ele vai longe na sua vida profissional...

Na sua vida pessoal é sonhador, daqueles que buscam algo sempre...tem muitos amigos que gostam realmente dele...ele transmite essa vontade da gente querer estar sempre perto dele, só podia ter tantos amigos assim...é casado e feliz no casamento...

Gosta de músicas, adora ir ao cinema, em shows, mas o seu talento nato é escrever...vem da alma...seus textos são sinceros, autênticos, tem personalidade de alguém que ama o que faz..tem beleza...nasceu para trazer brilho para as pessoas...em cada palavra...em cada crônica...em cada história...sabe o que quer!

..Mas, nem tudo é tão perfeito assim...ele esbarrou com outro alguém que mudou a direção de algumas coisas...alguém que ele não conhece apenas vê no dia-a-dia...mas algo acontece durante o dia...o desejo no olhar e de olhar...ele passa e é visto...ele volta e a vê...alguém que como ele tem muita vida além do que faz...os dois brilham quando estão no mesmo ambiente...apesar de nunca se falarem...eles tem interesses parecidos e acabam falando a mesma linguagem...a do silêncio, que fala mais que mil palavras juntas...se sentem atraídos pela admiração...pelo olhar (ele olha pra ela...ela de costas sente e sabe que ele olha)...pela sensualidade...pelo desejo...pela vontade...pelo desconhecido...pela distância e por estarem perto demais de seus sentidos...um provoca no outro a satisfação e o bem estar...e acabam se tornando personagens de uma história que eles mesmos criaram...
Ficção? Drama? Paixão? Comédia? Menos terror, porque eles sabem respeitar o espaço do outro...

Vida na cidade...









Os galhos das árvores balançavam com o vento forte que espalhava folhas por toda parte...uma delas entrou pela janela do carro e se alojou sobre o cólo dela...ela olhou , pegou a folhinha e ficou apreciando, olhou para os lados e se ligou nas pessoas que andavam pelas ruas, a medida que andava com o carro, em frações de segundos, via o mundo acontecendo...

A moça que gargalhava com seu companheiro ou amigo...
A criança com o avô de mãos dadas, quando passaram pelo poste separam as mãos e retomaram na sequência com um largo sorriso da garotinha para seu avô...ela vendo isso se emocionou...sentiu sinceridade...
O rapaz que leva vários envelopes na mão, se vira para dar bom dia as senhoras que passavam por ele...
As duas moças que caminhavam juntas, uma com roupa quadriculada vermelha e a outra com o mesmo quadriculado verde...pareciam toalhas de mesa de cantina italiana...
O rapaz que caminhava com pressa olhando para trás, espiando outro que o seguia, em algum momento o que seguia desiste e o seguido retoma rumo...
O homem que carregava uma placa sobre a cabeça, pedindo que os jornalistas viessem até ele por que ele sabia demais...homem bem vestido com olhar triste...

Todos com vida acontecendo em segundos...ela lembrou da época que voltava pelo minhocão quase todos os dias...final de tarde com um transito daqueles...ela não se importava...pelo contrário, desejava aquilo...ela sabia que sobre o minhocão tinha vida acontecendo...olhava pela janela dos apartamentos, não querendo abusar da intimidade de ninguém, mas apreciava as famílias que ali estavam...

Uma menina pendurada quase para fora da janela, achando graça de quem passava...
O jantar sendo servido na sala...alguns comem sentados no sofá...
A mulher estendendo a última roupa do dia...
O casal se abraçando e se beijando na frente da TV...
A vó tricotando e falando...
A criança que brinca no meio da sala...
O choro do BB recém nascido...
O paizão que conta histórias no sofá, com dois acordados e um dormindo...
E finalmente a luz do quarto que se apaga para alguém ir dormir...
Coisas da vida...vida e coisas... que acontecem o tempo inteiro para todos nós...

OLHAR DISTANTE...

Lá estava ela novamente...com um olhar distante como costuma fazer durante alguns períodos do dia...um olhar que busca algo que não pode ver, várias coisas acontecem o tempo todo, várias pessoas falam ao mesmo tempo...e os olhos não conseguem alcançar o seu objetivo... quando consegue...sua timidez leva os olhos embora do alvo...ai ela pensa...e se perde em seus pensamentos...
Ai ela busca o alvo...o dia acabou...ele se foi... o vazio toma espaço...
E o olhar vai embora novamente e busca respostas para o que sente...

MELANCOLIA

Sentimento de vaga e doce tristeza que compraz e favorece o devaneio e a meditação...
De repente, me vi assim, num observatório de mim mesma... parei, senti este momento como único...avaliei os meus 40 anos em uma retrospectiva de segundos...estava eu com as melhores lembranças de minha vida...

... as ruins se foram, apagaram, por mais que eu me lembre, já não sinto mais...vi...compreenção, atitude, maturidade, força, desejo, esperança...

...por mais um segundo, deixei os sonhos de lado, investi na realidade...respirei fundo...compreendi que o passar dos anos trava um contato só com as boas lembraças, mas leva embora aqueles que passam por nossas vidas...respirei profundo novamente...lembrei de muitos rostos que conheci e ainda conheço...

...os que conheço me jogam para o futuro, os que conheci, me deram o que eu sou hoje...amigos, amores, tios, primos, avós e até meus pais que se foram...ai veio a vontade de chorar...só algumas lágrimas e passou...então vi a realidade levando de mim, pelo tempo que não para, as pessoas...mas me avisa que as lembranças que ficam, são somente as boas...respirei e sorri...
Parece triste... ...e é!

Como eu decidi falar de melancolia hoje, não teria outro jeito de escrever este texto...é só isso.

ONTEM, NO ÔNIBUS










[O que eu achei incrível neste texto, é que eu tinha apenas 14 anos e sem nenhum tipo de ácido, imaginei tudo isso...rs...vale um registro.]


Eu estava sentada no primeiro banco depois da roleta.
Quando olho para o lado, vejo uma mulher com um sorriso muito sem graça me olhando fixo...perguntei para ela:
— Dona, dona...a senhora tem horas?
A mulher virou para mim com um ar inseguro e GRITOU:
–Socorro!!!Não fale comigo.
Virei-me para a frente como se nada tivesse acontecido...não entendi nada.
Um homem alto, muito atraente, chegou do meu lado e começou a cantarolar:
— Lá...lá...lá...lá...lááá....blu.....oh yes...
Sorrindo disse para ele:
— Bom começar o dia assim, de bem com a vida.
Ele olhou para os meus olhos...
—Não, não, nãooooooo está nada bem.
Calei! Fiquei apenas observando.
De repente, cai uma sacola no meu pé, cheia de óleo de cozinha que fez uma meleca só. Gritei!!!
—Ai que dor, minha calça.
Ninguém, mais ninguém mesmo se importou com o acontecido, ficaram apenas olhando para mim e caíram na risada.
Pensei se estava louca ou em um hospício, resolvi, com uma enorme raiva, sair de lá. Quando toquei a campainha do ônibus, não funcionou.
—Moço, eu quero descer, por favor, pare o ônibus.
O motorista olhou para mim com um olhar de desdem....e foi falando:
—Fique fria garota, isso tudo vai acabar logo, já estamos chegando no baile dos bichos, muitos jacarés lá no pantano.....e caiu na gargalhada.
Escutando aquelas palavras, desci do ônibus com ele andando em velocidade...
Agora estou aqui, na cama de um hospital, com as pernas quebradas, toda machucada e todos me achando maluca.

O QUARTO DE PENSÃO

[Este texto foi feito por mim em 1982, ganhei um "A" com ele e mesmo tanto tempo depois, ainda gosto dele.]

Com um olhar apenas, percebiá-se que era um quarto em perfeita desordem.
Por cima da cama, havia roupas jogadas como se fossem trapos imprestáveis...uma toalha de banho vermelha ficava pendurada entre uma das portas de um guarda-roupa velho e solitário...os vidros da janela mostravam o futuro para aquele par de sapatos, que ficavam escondidos atrás de uma revista, que falava sobre coisa sem importância...havia um sorriso no espelho que escutava um pequeno radinho de pilha que, em geral, falava desligado...entre o guarda-roupa e a parede, viá-se um copo caído tentando levantár-se, para ser novamente preenchido com as gotas de uma velha garrafa revoltada...